Revalida: reprovações provocam ‘boom’ de alunos em cursinhos; médico ensina como ‘driblar’ possíveis falhas da prova

   Foto: Bom Dia Amazônia

Médicos formados no exterior têm cada vez mais procurado cursinhos específicos para conseguir passar no Revalida. O exame que valida diplomas de medicina estrangeiros no Brasil registrou a menor taxa de aprovação da história em 2022. E, junto, também aumentaram as reclamações sobre os conteúdos cobrados pelas provas e sobre inconsistências na correção.

Na edição do segundo semestre do ano passado, apenas 263 conseguiram passar na segunda etapa do Revalida e, com isso, vão poder exercer a medicina no Brasil. Na primeira etapa, mais de 7 mil candidatos estavam presentes.
Segundo médicos brasileiros que fizeram o Revalida recentemente e professores consultados pelo g1, o nível de dificuldade do exame vem aumentando a cada edição.

“É um fato que a prova está cada vez mais difícil. O nível de exigência tem crescido e isso faz com que os candidatos busquem uma preparação mais qualificada para fazer a prova”, avaliou a médica Thamyres Souza Areia, que passou no exame em 2022 e hoje dá aulas no cursinho Estratégia MED exclusivamente para revalidandos.

Na instituição, o número de alunos quase dobrou de um ano para outro: passou de 2,7 mil matriculados em 2021 para 5,1 mil no ano passado. Para 2023, a tendência também é de aumento.

“Em 2017, quando eu comecei a estudar pelo Revalida, eu notei que alguns cursos do mercado só mudavam a embalagem: pegavam um curso de residência médica e vendiam para o Revalida. Mas não é a realidade. Os alunos hoje têm essa percepção aflorada. Daí veio a necessidade de criar um material específico”, explicou a médica e professora.

De acordo com Thamyres, muitos médicos com diploma estrangeiro preferem bancar um cursinho e aumentar a preparação do que reprovar e ter que pagar novamente a alta taxa de inscrição da segunda prova, onde o médico é testado na prática. O valor é de R$ 4.106,09.

Em alguns cursinhos para o Revalida, o ensino é feito com base nas provas anteriores, além de conceitos específicos sobre legislação e o funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS).

“Esse é um ponto que tem que ser bem abordado para o médico formado no exterior, porque na prova dele vai cair o SUS, que pode ser diferente do sistema de saúde pública do país onde ele estudou”, colocou Thamyres.

Candidatos questionam o exame
O médico formado no exterior, seja brasileiro ou estrangeiro, precisa passar por duas etapas para conseguir revalidar o diploma junto a uma universidade pública brasileira:

Na 1ª etapa, são 105 questões: 100 objetivas e 5 discursivas;
A 2ª etapa vale 100 pontos e testa as habilidades clínicas do médico com exercícios práticos.
A prova prática é dividida em 10 estações que simulam atendimentos no SUS com a participação de atores;
O médico tem 10 minutos para seguir uma lista de tarefas determinada e dar as respostas corretas sobre a saúde do “paciente”, indicando diagnóstico, tratamento e encaminhamento, por exemplo. A cada acerto, o médico ganha pontos, que são somados ao final.
Junto com o nível de dificuldade das provas, aumentaram também as reclamações sobre o exame. Médicos brasileiros que se formaram em universidades estrangeiras e que fizeram o Revalida em 2021 e em 2022 relatam inconsistências no conteúdo, falta de coerência na hora da correção e aumento indevido na nota de corte (pontuação mínima para o candidato ser aprovado).

Formado em medicina no campus da Universidad del Pacífico, localizado na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, que faz fronteira seca com a brasileira Ponta Porã (MS), o médico Bryan Nasato afirma que, dos 100 pontos em jogo na última prova prática do Revalida, aplicada em dezembro de 2022, 40,35 apresentavam inconsistências.

Davi Torres, formado em medicina na Universidade de Morón, na Argentina, não passou por 6,15 pontos, algo que considera injusto. “Eu falei pedra na vesícula e na prévia do gabarito estava colelitiase. É a mesma coisa. E me tiraram pontos”, afirmou o médico.

O Revalida é coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O g1 questionou o Inep sobre os relatos, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.

Com informações do g1/adaptação

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